Pular para o conteúdo principal

Dormi técnico, acordei chefe: a angústia da travessia de funções

Novos gestores impactam o operacional, mas não são preparados adequadamente, alerta Mauro Mercadante, do LAB SSJ

“Você acordar gerente é super legal, mas eu acordo no susto”. Esse depoimento foi colhido pela pesquisa da consultoria Lab SSJ com mais de 4.000 profissionais de todo o país que estão no cargo de chefia pela primeira vez. O levantamento aponta deficiência na promoção de jovens talentos, mostra como o treinamento para a primeira gestão ainda carece de relevância, dentro das corporações.
Esse problema, que se torna mais urgente num mercado que cresce rapidamente e precisa promover profissionais para cargos de chefia, foi debatido no comitê aberto de Gestão de Pessoas da Amcham – São Paulo na quinta-feira (23/05), por Mauro Mercadante, diretor de projetos do Lab SSJ; Monica Santos, diretora de RH do Google; e Antonio Salvador, diretor vice-presidente de Gente do Grupo Pão de Açúcar e presidente do comitê na Amcham.
“Mergulhamos nesse assunto em função da importância desses novos gestores no negócio. São eles que tocam o bumbo, lideram 200 ou 300 funcionários que fazem o operacional, e estão vivendo a angústia desse desafio”, justifica Mercadante. A insegurança, diz, culmina em impacto negativo na produtividade, algo tão caro em tempos de competitividade global.
Cenário
Segundo a pesquisa, 85,5% dos participantes não tiveram treinamento formal, antes de assumir a primeira gestão, e 78,6% procuraram conversar com seus líderes para tentar minimizar as dúvidas - outros 55,5% conversaram com pares e 47,2% buscaram solução na literatura especializada. Apenas 18,3% vão procurar apoio no RH das companhias. E 57% usaram a estratégia de tentativa e erro para aprender a lidar com a nova realidade.
Além da falta de preparo, o levantamento mostra ainda que 40,9% desses profissionais ascenderam por indicação do gestor e 27,6% conseguiram a promoção ao trocar de empresa. Somente 7,9% ascenderam por meio de mapeamentos e processos de sucessão da própria companhia.
“Entre os fatores mais angustiantes, estão alcançar metas e atender às expectativas dos líderes (68,1%) e cuidar do desenvolvimento e da carreira dos colaboradores (52,7%)”, aponta Mercadante.
Medo e ação
Da plateia (em torno de 100 pessoas) instada pelos palestrantes por meio de uma dinâmica, surgiu constatação de que muitos líderes apresentam medo e dificuldade em treinar sucessores, nos quais estariam os jovens que ascendem à primeira gestão. Para corroborar, Mercadante cita dado de 2009 do CLC Human Resources de que 87% dos líderes em altos cargos não têm sucessores preparados.
“Há gente com medo de perder seu time e fazer gente boa, ou que se acha insubstituível. Mas há empresa que diz ‘o insubstituível é impromovível’. Todo mundo tem de ter um sucessor”, brinca Antonio Salvador.
Ele cita que, no Brasil, as promoções atingem profissionais mais jovens que em outros países, além da ansiedade acentuada pela idade e pelas características geracionais.
“Há líderes que chegaram à gerência sênior sem serem treinados e eles geram outros líderes também assim. Por isso o RH é tão pouco procurado pelos novos gestores. Tem de se montar uma rede de suporte para ele [novo gestor] não se sentir sozinho”, aponta o executivo do Pão de Açúcar, grupo que tem 14 líderes.
Desejo, aptidão e desafio
Ascender buscando cargos de liderança nem sempre é o caminho, lembra Salvador. “Há a carreira em Y”, lembra, sobre a modalidade de gerenciamento de carreiras que permite a profissionais técnicos continuarem trabalhando em suas especialidades, enquanto os mais generalistas vão para cargos de chefia. “Mas não é modelo ainda muito usado no Brasil”, contrapõe.
A diretora de RH do Google, que treina seus profissionais para a primeira gestão, reforça a ideia de que nem todos estão aptos para a liderança simplesmente porque não pretendem esse tipo de carreira linear. “Promover o melhor técnico nem sempre quer dizer que ele será o melhor gestor, isso pode sair um fracasso. E há técnicos, ainda, que não querem esse tipo de ascensão”, diz Monica Santos.
Por outro lado, ela alerta que é preciso identificar os reais motivos daqueles que almejam a liderança, se maior remuneração ou mais poder. “Há a questão de desejo, aptidão e desafio”, pontua.
Escolha e treinamento
A executiva comenta que é necessário avaliar os possíveis gestores durante o trabalho, com os demais colegas, observando atitudes naturais, como o posicionamento em questões e discussões. “Uma das principais características é se ele faz os outros crescerem”, ressalta. Ela afirma, porém, que além da liderança nata, é possível desenvolver a gestão por meio de treinamento, se esse for o desejo do profissional.
“Líder nato ou escolhido por meio de processo, tudo tem de ser feito às claras, com regras definidas, para que o restante da equipe não se sinta em um jogo de cartas marcadas. É preciso dar feedback, também, para quem não foi escolhido”, destaca.
Monica ressalta que o próprio profissional deve se conhecer para saber aonde quer chegar e como. “Algumas pessoas perguntam ‘qual é o plano de carreira?’. Eu pergunto: ‘o que você quer fazer?’. Cada um tem de gerenciar sua própria carreira”, define.
** A reprodução deste conteúdo é permitida desde que citada a fonte Amcham

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cobrança: Um breve resumo sobre prescrição de dívida.

Por Ubiratan Dib     É muito comum que tanto consumidores como profissionais da área de cobrança tenham dúvidas sobre o assunto prescrição de dívida, também popularmente conhecido como “caducar”. Vamos tentar esclarecer o assunto da forma mais didática e abrangente possível. Conforme definido pela legislação, a prescrição representa a perda do exercício de recorrer através de ação judicial – um direito que o credor tem em face ao devedor num determinado prazo. Para facilitar o entendimento, quando falamos, por exemplo, de um contrato de concessão de crédito, o prazo prescricional passa a ser contado a partir da inadimplência do devedor. E em relação ao famoso prazo de cinco anos que todos falam e comentam, ele existe mesmo? O credor não pode cobrar mais a dívida depois deste prazo? E o apontamento do nome do consumidor inadimplente, não pode ficar mais registrado nos órgãos de proteção ao crédito após este prazo? Sem dúvida, a mistura dos assuntos é a grande gerado...

EU NÃO QUERO AS MELHORES PESSOAS, EU QUERO O MELHOR DAS PESSOAS _GESTÃO DE PESSOAS.

Outro dia quando ouvi alguém mencionar em uma reunião a ideia consagrada de que as melhores pessoas trarão os melhores resultados, resolvi prestar mais atenção e pensei: Será que eu sou a melhor pessoa para a minha empresa? E se não for? Como eu vou saber? Como eles vão saber?  Estas perguntas me atordoaram um pouco até que em um diálogo com gestores de outras empresas, muitos confessaram que se tivessem de passar pelo processo seletivo dos funcionários que eles contratam, provavelmente não seriam contratados.  Por causa disso, a reflexão bateu mais forte. Caramba, estas pessoas trouxeram a empresa até aqui, construíram coisas incríveis, alcançaram desafios insanos e revelam este episódio como se não houvesse um lugar para elas. Porque apenas as melhores pessoas são queridas nesta realidade e elas não se reconhecem como sendo uma delas.  Existem as pessoas melhores para cada diferente situação.”   Fiquei pensando que se existisse uma empresa que realme...

CONHEÇA O POTENCIAL DA INOVAÇÃO ABERTA: 6 LIÇÕES PARA GERAR MAIS RESULTADOS

   Texto:  Luis Marques   Innova Consulting   Sócio Mais de 40% das ideias que chegam nas empresas mais inovadoras do mundo vêm de fora do portão. Inovação aberta é um conceito formalizado pelo prof. Henry Chesbrough, de Berkeley, que diz na prática que o “santo” de fora pode auxiliar bastante nos “milagres” da inovação. Dar ideias, melhorar processos, produtos vencedores, consumidores felizes e fiéis, são normalmente objetivos que os “santos” de casa buscam empreender para conquistar o paraíso. Mas nos dias atuais, o cliente, o fornecedor, o cidadão, o prospect, o professor universitário, estão cada vez mais interessados em contribuir com  a inovação de uma empresa . Neste trabalho em rede, a vontade de realizar das pessoas se soma a grandes resultados alcançados na resolução de problemas. Sejam simples ou complexos, grandes empresas vêm obtendo ROI’s acima de 100% em projetos que envolvem  inovação aberta . Como uma startup pode se benefic...