O professor de Harvard Robert Steven Kaplan diz que o sucesso depende de
um processo corajoso de conhecimento pessoal
Beatriz Rey, da VOCÊ S.A
Chapel Hill - Robert
Steven Kaplan tornou-se professor da escola de negócios de Harvard em 2005,
depois de uma carreira de mais de 20 anos em Wall Street — a maior parte do
tempo como alto executivo do banco Goldman Sachs, de onde saiu como
vice-presidente do conselho (não confundir com o professor homônimo, criador da
metodologia Balanced Scorecard).
Mesmo com um grande
repertório em gestão de investimentos, na academia ele enveredou pela linha de
estudos do comportamento profissional. Em seus
livros, Kaplan trata da investigação profunda que os profissionais devem fazer
em suas fontes de motivação — que, segundo ele, não são investigadas e por isso
as pessoas não crescem. É nesse ponto que entra a experiência do mercado financeiro.
Como orientador de
carreira, Kaplan não amacia. “Executivos bem-sucedidos devem ser capazes de listar seus pontos fortes e fracos”,
diz. Em entrevista à VOCÊ S/A, o professor fala sobre seu novo livro, What You’re Really
Meant to Do (“O que você realmente deve fazer”, em tradução livre), que será
lançado em maio nos Estados Unidos. E ele promete ir fundo na busca dos
interesses profissionais.
VOCÊ S/A - As pessoas realmente buscam conhecer a si mesmas?
Robert Steven Kaplan - Todos nós, e aqui me incluo, temos
“pontos cegos”, ou seja, características pessoais das quais não temos
conhecimento, mas que são evidentes para quem nos observa. Os profissionais
estão em diferentes estágios do processo de conhecimento íntimo.
Nunca conheci alguém
que não precisasse de ajuda ou conselho para se desenvolver. Uma pessoa pode
prescindir de ajuda durante algum tempo, mas em algum momento certamente
precisará conversar. A situação é a seguinte: se você não precisa de conselho,
não está produzindo nada. Está parado, não está crescendo.
VOCÊ S/A - Essa busca é um processo constante, certo?
Robert Steven Kaplan - É importante dizer que não são somente
as pessoas que mudam. O mundo também está em transformação. A natureza das
empresas e das indústrias muda. E você também muda: pode assumir novas
responsabilidades, por exemplo. A busca do potencial único é certamente um
processo constante.
Uma situação muito comum é encontrar uma pessoa que trabalha há dez anos
no mesmo lugar e simplesmente deixa de gostar da empresa, do trabalho. A
pergunta é: por quê? Ouço bastante esse tipo de queixa: “Eu costumava amar meu
emprego, hoje detesto”. O que aconteceu? O emprego mudou ou é o profissional
que está diferente?
O professor de Harvard Robert Steven Kaplan diz que o sucesso depende de
um processo corajoso de conhecimento pessoal
VOCÊ S/A - Com qual frequência devemos revisitar o que sabemos
sobre nós?
Robert Steven Kaplan - Não há um tempo certo, mas claro que
não pode ser algo feito a cada segundo. Meu livro fala em atualizações
regulares de seus pontos fortes e fracos, de suas paixões, de quem você é, o
que você ama, qual o seu caráter, seu tipo de liderança. Essas são perguntas
que as pessoas devem se fazer de tempos em tempos. O livro é como um roteiro —
você não precisa consultá-lo sempre, mas deve pegá-lo de vez em quando para ter
certeza de que sabe para onde está indo.
VOCÊ S/A - O senhor acha que as pessoas dedicam a energia
necessária a essa investigação?
Robert Steven Kaplan - Se você é cínico, tem complexo de
vítima ou acha que o mundo é muito injusto, terá muita dificuldade em tentar
qualquer caminho diferente daquele que está trilhando. Esse tipo de mentalidade
negativa coloca o profissional em um ciclo de insatisfação. Lido com pessoas
que são cínicas ou que acreditam que a Justiça não funciona o tempo todo.
Percebo o quanto isso é improdutivo.
Nos Estados Unidos,
quando se fala em imposto, por exemplo, há quem acredite que nada funcionará,
que o governo está sempre prejudicando a população. É difícil encontrar uma
solução quando se adota um padrão de comportamento destrutivo. Entendo que as
pessoas recorrem a ele para se proteger. Elas já foram prejudicadas e não
querem passar por isso novamente. Só que, no fim das contas, acabam
prejudicando a elas mesmas.
VOCÊ S/A - De acordo com o livro, esse tipo de mentalidade está
relacionadoa experiências negativas que persistem na memória e prejudicam o
desempenho. Isso é comum no trabalho?
Robert Steven Kaplan - Se você me der mil pessoas, lhe darei
mil narrativas diferentes. A mais comum é “não sou bom o suficiente” e suas
variações. Mesmo se as pessoas que convivem com o profissional o consideram
incrível, a narrativa persiste. Isso leva profissionais a cometer erros graves.
As situações de pessoas que perdem a cabeça, que não cooperam e que são
imprevisíveis, em muitos casos, não acontecem porque são babacas. Elas ocorrem
por causa de insegurança, porque querem se proteger. Cada pessoa tem sua
própria narrativa negativa. Não há quem não a tenha. O segredo é ter
consciência de que ela existe e entender como afeta seu comportamento.
Livrar-se dela não é possível. Mas saber que ela existe e não ser prisioneiro
dela, sim.
VOCÊ S/A - O senhor diz que devemos buscar uma definição própria
para o sucesso. Como fazer isso diante dos modelos que a sociedade impõe?
Robert Steven Kaplan - O livro é justamente sobre isso. É
preciso entender pontos fortes e fracos e quais são suas paixões para definir o
conceito próprio de sucesso. É um processo que demanda muito trabalho. A
pressão dos colegas é muito forte. O roteiro que proponho não vai fazer com que
o profissional fique blindado a essa pressão.
Além de conhecer suas
qualidades e defeitos, ele deve entender por que se sente vulnerável à pressão
social. Talvez falte autoconfiança. Ou então haja questões não resolvidas com
os pais, o que leva o sujeito a tentar agradar os outros. Esse entendimento
aumenta a determinação.
VOCÊ S/A - Em termos práticos, quais estratégias um profissional
pode adotar para se conhecer?
Robert Steven Kaplan - Um bom exemplo é pensar em um momento
durante a vida em que se sentiu melhor. O que você estava fazendo? Por que
gosta tanto desse momento? Talvez você estivesse trabalhando com esportes, com
crianças ou simplesmente escrevendo. Quais tarefas estava desempenhando? Por
que você era tão bom nessas tarefas? É apenas um exemplo de exercício simples,
que força a pensar sobre o passado.
Quando as pessoas fazem isso, percebem que gostam de trabalhar com gente
ou com vendas, por exemplo. Mais: percebem que não pensavam a respeito disso
havia anos. Na sequência, minha pergunta é: por que não trabalhar em uma
empresa que ofereça esse tipo de trabalho? O importante é fazer algo além de
pensar. Há o cérebro e o coração. Em outras palavras, pensar no que sentimos é
fundamenta
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