Revista VOCÊ S/A
As previsões para o
emprego neste ano permanecem ruins na maior parte do país. Mais de 80 000 vagas
foram fechadas entre janeiro e abril, e 84,4% das indústrias de São Paulo não
têm planos de contratar neste primeiro semestre, segundo a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo.
Isso não significa que as empresas estejam paradas
na pesquisa de candidatos. Uma prática de headhunters antes restrita a altos
executivos — a de sondar profissionais, sem compromisso — começa a se estender
a níveis mais baixos da hierarquia. Trata-se de um flerte que pode virar namoro
no futuro. “Deixo claro que não há uma vaga aberta”, afirma Gabriel Frank,
diretor de RH do Groupon para a América Latina. “Digo à pessoa que ouvi
bastante sobre seu trabalho e que isso motivou o encontro.”
A paquera profissional permite aos dois lados se
conhecer e verificar se há alinhamento de interesses. Quando uma vaga surge, a
chance de contratação daquele profissional aumenta. “Se gostamos da pessoa, ela
fica em nosso radar pelos próximos seis a 18 meses”, diz Daniela Sicoli,
gerente de recrutamento da Microsoft no Brasil. Confira o que fazer se receber
um convite desses.
Troca de olhares
A primeira mensagem ou ligação pode ocorrer a
qualquer momento do dia. A abordagem é semelhante àquela feita quando há um
candidato em vista para uma vaga em aberto. “Em geral, marcamos esses encontros
com profissionais de que já ouvimos falar, por indicação”, afirma Gabriel
Frank, diretor de RH do Groupon para a América Latina. “Pessoas com alguma
especialização ou funcionários de empresas semelhantes também são observados”,
diz ele.
COMO AGIR
A postura de um profissional na ligação ou na
resposta ao e-mail ou mensagem reflete quem ele é. “É nesse primeiro contato
que tiramos as primeiras impressões sobre o profissional”, afirma Bernardo
Cavour, headhunter da Flow Executive Finders. Seja educado e, se não puder
falar no momento, retorne a ligação com um pedido de desculpas.
É importante perguntar onde o recrutador encontrou
seu contato e por que gostaria de conversar. Não crie expectativas. Em
princípio, o encontro é apenas para networking sem compromisso. Se realmente
não estiver interessado na possibilidade de trocar de emprego, recuse o
convite. Não vale a pena perder seu tempo e fazer o recrutador perder o
dele.
O primeiro encontro
Como não há vaga em jogo, é comum que esses encontros
ocorram fora das dependências da empresa, num café da manhã ou almoço. “É o
cenário ideal para entender qual é o momento da pessoa e se ela está buscando
um novo desafio”, afirma Gabriel. Fora do escritório, a tendência é que o
possível candidato se solte mais, já que não existe a tensão de uma entrevista
formal, dando ao profissional de RH a possibilidade de ler nas entrelinhas se
realmente há afinidade entre aquele executivo e a empresa. “Mas esse primeiro
encontro também poderá acontecer por vídeo se as agendas estiverem muito
complicadas”, diz Daniela Sicoli, da Microsoft.
COMO AGIR
Como nos encontros amorosos, em entrevista de
emprego não se fala mal do ex, seja ele o chefe ou a empresa. Aproveite para
falar de seus projetos e do que você espera para sua carreira. No atual
emprego, mantenha a discrição. “O chefe pode não gostar de saber que você está
aberto a propostas”, diz Sofia Esteves, da consultoria de recursos humanos
DMRH, de São Paulo.
Em um almoço ou café, se ofereça para pagar a conta
ou, pelo menos, sua parte. “A boa educação diz que quem convidou deve pagar,
por isso pago sempre”, afirma Ana Ramos, consultora da Hays, empresa de
recrutamento de São Paulo. “Mas, ao se oferecer para pagar, o candidato mostra
que o encontro também foi bom para ele.”
O dia seguinte
Depois do encontro, não existe um prazo para ligar
de volta. Lembre-se: é um encontro sem compromisso. Vale um contato apenas se
você prometeu enviar alguma informação extra. “Se eu achar que aquele
profissional é interessante para algum projeto que um cliente esteja fazendo,
vou falar dele para a companhia.
Não existe a necessidade de ficar ligando ou
mandando e-mails para ser lembrado”, diz Ana, da Hays.
COMO AGIR
É difícil controlar a ansiedade, mas não ligue, não
mande e-mail nem WhatsApp no dia seguinte perguntando por novidades. “Insistir
em saber se houve alguma mudança no mercado da noite para o dia só vai deixar
quem o procurou irritado”, diz André Freire, presidente da Odgers Berndtson,
consultoria de recrutamento de altos executivos.
Não caia na tentação de descuidar de seu trabalho
atual, achando que sua saída é uma questão de tempo. Lembre-se de que uma
proposta para a nova empresa pode não se concretizar e você não deve trocar o
certo pelo duvidoso.
Relacionamento sério
Com o mercado desaquecido, um segundo contato pode
levar meses para acontecer. Mas, se o telefone toca, é sinal de que o
profissional está realmente sendo sondado para uma vaga que abriu — ou que
esteja para abrir. “Não há regra, mas o habitual é que esse tipo de contato não
ultrapasse dois desses encontros”, diz Gabriel, do Groupon.
A explicação é que, se passa disso, as pessoas
sondadas começam a sentir que estão perdendo tempo. Ainda assim, não considere
que já está contratado. Aja como se estivesse em uma entrevista de
emprego.
COMO AGIR
Cuidado com informações confidenciais sobre a
empresa em que você trabalha ou o setor em que atua. “É normal querer
impressionar durante uma entrevista, mas falar de assuntos sigilosos acende a
luz vermelha para o profissional”, diz Bernardo, da Flow.
A explicação é simples: se falou dos assuntos
secretos da empresa em que está agora, o que o impedirá de fazer o mesmo caso
seja contratado em uma nova? Se após esse contato não for formalizada uma
proposta, tire a história da cabeça. Como em um namoro, esteja preparado para
partir para outra se necessário.
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