Outro dia quando ouvi alguém mencionar em uma reunião a ideia consagrada de que as melhores pessoas trarão os melhores resultados, resolvi prestar mais atenção e pensei: Será que eu sou a melhor pessoa para a minha empresa? E se não for? Como eu vou saber? Como eles vão saber?
Estas perguntas me atordoaram um pouco até que em um diálogo com
gestores de outras empresas, muitos confessaram que se tivessem de passar pelo
processo seletivo dos funcionários que eles contratam, provavelmente não seriam
contratados.
Por causa disso, a reflexão bateu mais forte. Caramba, estas
pessoas trouxeram a empresa até aqui, construíram coisas incríveis, alcançaram
desafios insanos e revelam este episódio como se não houvesse um lugar para
elas. Porque apenas as melhores pessoas são queridas nesta realidade e elas não
se reconhecem como sendo uma delas.
Existem as pessoas melhores para cada
diferente situação.”
Fiquei pensando que se existisse uma empresa que realmente
conseguisse desenvolver um equipamento que identifique as melhores pessoas e
consiga trazer todas para si, seria muito sem graça. Isso porque, o que seriam
todas as outras pessoas que sobrou, as não melhores? Para onde iriam? Que
empresa gostaria de ficar com elas? E ainda, dentre estas melhores pessoas,
existiriam as melhores das melhores?
E para
que tudo isso? Resultados por meio das melhores pessoas? Talvez você já esteja
pensando o mesmo que eu pensei: existem as pessoas melhores para cada diferente
situação. Isso me acalmou, porque com esta ideia consegui enxergar um lugar
para todas as outras pessoas. Mas ainda assim não fiquei satisfeita. Resolvi
continuar desafiando a ideologia de que existe esta coisa chamada “melhor
pessoa” e comigo ocorreu que as melhores pessoas em cada situação, na verdade,
são as melhores pessoas que elas podem ser naquela situação.
Quero dizer o seguinte: Não acredito nas melhores pessoas.
Acredito no melhor das pessoas. Acredito que todos nós temos um lugar e o
melhor é aquele que me ajuda a fazer com que o meu melhor apareça. Então mudei
completamente a referência. Não quero as melhores pessoas. Eu quero a melhor
empresa, a melhor liderança, que ajude e que convide o melhor das pessoas a
aparecer.
Hoje em
dia, já temos algumas pistas de como o melhor de cada um aparece: Quando somos
vistos pelo que somos; quando a nossa individualidade é bem-vinda; quando somos
vistos com o coração; quando somos desafiados com dignidade com tarefas que
tenham propósito e que temos a capacidade de aprender; quando podemos nos perceber
crescendo; quando percebemos coerência nas relações; quando nossos erros são
considerados com respeito; quando podemos nos expressar; e quando podemos
contribuir.
Não acredito nas melhores pessoas.
Acredito no melhor das pessoas. Acredito que todos nós temos um lugar e o
melhor é aquele que me ajuda a fazer com que o meu melhor apareça.
Portanto, acredito que as melhores pessoas já estão lá. Mas,
talvez o seu melhor ainda não esteja. A próxima reflexão é: O que eu posso
fazer para que o melhor das pessoas esteja presente? Certamente que o
julgamento de que existem pessoas melhores do que outras não ajudam.
Acho que esta busca pelos melhores provoca uma pasteurização das
pessoas, dentro de um determinado contexto e referência. Ou seja, para
sentirem-se seguras e desejadas, as pessoas terão que tentar ser, talvez, uma
coisa que não são. E eu não consigo entender como exatamente esta tentativa vai
trazer o melhor das pessoas, já que elas não serão convidadas e autorizadas a
simplesmente serem o seu melhor.
E toda esta ideia já conversa com outra bastante tradicional e
consagrada: As “melhores empresas”. Mas isto fica para a próxima.
Angélica Moretti é Sócia
Consultora da Corall e escreve para o blog Gestão Fora da
Caixa da
Exame.
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